O tempo de permanência da criança na escola é uma das medidas usadas para calcular a sua exposição às atividades letivas. Alterações na jornada diária podem ter impactos diretos e indiretos tanto no comportamento como na aprendizagem dos estudantes, além de afetar a organização do sistema de ensino.
Os efeitos diretos da ampliação da jornada são óbvios: uma permanência mais longa expõe mais o aluno ao conhecimento. Já os indiretos vêm dos ganhos que essa extensão pode proporcionar ao trabalho do professor. Afinal, uma jornada diária ampliada possibilita um maior tempo para desenvolver o currículo básico e oferecer suporte aos alunos com dificuldade de aprendizado, além de ser uma ótima oportunidade para aplicar técnicas diversificadas de ensino.
Há evidências, no entanto, de que para melhorar o desempenho do aluno o aumento da jornada diária deve acontecer por meio da expansão do número de aulas, e não pela ampliação de sua duração.
IMPACTO
Estudos indicam que a ampliação da jornada tem um impacto considerável sobre a proficiência dos alunos. Mas o impacto positivo só é obtido se a ampliação das horas do aluno na escola se der pelo aumento do número de aulas oferecidas a cada dia, e não por uma maior duração de cada aula. Tornar as aulas longas (acima de 50 minutos) pode até levar a uma queda na proficiência, reduzindo o aprendizado típico anual.
Porém, faltam às pesquisas informações detalhadas sobre o uso do tempo extra na escola. De qualquer forma, as aulas adicionais devem priorizar, central ou transversalmente, o conteúdo acadêmico, como Matemática e leitura.
O impacto da ampliação da jornada diária depende do nível de proficiência de cada aluno e do formato dado à extensão do horário. Os alunos que apresentam maior dificuldade de aprendizado são os mais beneficiados por uma política dessa natureza. Para estes, o efeito mais significativo vem do aumento no número de aulas com duração mais curta. Já estudantes com os melhores desempenhos parecem se beneficiar de um número menor de aulas um pouco mais longas.
Uma das dificuldades para estimar o impacto da jornada diária é separar o seu efeito de uma pré-seleção de bons alunos. Em geral, pais que mais valorizam a educação tendem a colocar seus filhos nessas escolas. Caso seus filhos sejam também os que possuem melhor desempenho, o efeito de uma ampliação da jornada pode estar sendo superestimado pelos estudos.
POSSIBILIDADES DE AÇÃO
Para projetar e implementar uma política de ampliação da jornada diária, as redes de ensino precisam levar em conta uma série de questões ― como a disponibilidade de professores, que precisam ser, no mínimo, tão qualificados quanto os que estão em sala de aula. Escolas com mais de um turno podem, por exemplo, necessitar de um maior número de salas de aula, caso os turnos se sobreponham com a jornada ampliada.
O currículo é outra questão importante a ser considerada. Se ele não for adequado à expansão do turno, existe a chance de promover atividades que não impactem o aprendizado. Além disso, é fundamental capacitar os professores para que priorizem a utilização do tempo adicional para atividades acadêmicas. Também pode ser interessante incentivá-los, na medida do possível, a desenvolver e aplicar técnicas mais inovadoras de ensino.
O ideal é que a ampliação da jornada diária se dê por meio do aumento do número de aulas de até 50 minutos, evitando-se também aulas seguidas da mesma disciplina.
Do ponto de vista dos pais, colocar os filhos em escolas que ofereçam jornada ampliada pode ser uma boa opção. Seu impacto sobre o aprendizado, no entanto, vai depender muito do que é oferecido no contraturno. Uma das formas mais eficientes de utilizar o tempo adicional é por meio de aulas e atividades que priorizem o conteúdo curricular, especialmente para os alunos com defasagem de aprendizagem.
Texto elaborado com base em estudo de Cristine Campos de Xavier Pinto