Agrupar os alunos em turmas homogêneas ou heterogêneas em relação ao desempenho escolar é tema controverso entre os gestores de políticas públicas. No Brasil, as escolas costumam utilizar dois critérios para a alocação dos estudantes: defasagem idade-série e desempenho em anos anteriores. Ambos podem servir para formar tanto turmas homogêneas como heterogêneas em relação ao aprendizado dos alunos. A evidência empírica indica que os alunos têm um aprendizado maior em turmas homogêneas.
IMPACTO
Os efeitos podem ser diretos ou indiretos. O efeito direto está relacionado à interação entre os alunos. Em geral, ele é mais importante em turmas heterogêneas, em que os melhores alunos podem, por exemplo, ajudar os que têm mais dificuldade. O efeito indireto vem da reação do professor diante das turmas e os estudos indicam que ela é mais favorável em classes homogêneas, pois ele pode preparar a aula segundo o nível da turma. O professor também se sente mais motivado e empenha-se mais em ensinar. De modo geral, segundo os trabalhos, os efeitos positivos indiretos prevalecem.
Mantendo-se constante a qualidade do professor e do material didático, o fato de estar em uma turma homogênea já aumenta por si só o aprendizado, tanto no Ensino Fundamental como no Médio. O ganho no desempenho médio equivale a 35% do que um aluno aprende tipicamente em um ano (1).
Além disso, os efeitos são persistentes. Mesmo que os alunos alternem turmas homogêneas e heterogêneas de um ano para o outro, os que frequentaram turmas homogêneas por pelo menos um ano terão desempenho maior que os alunos que sempre estiveram em turmas heterogêneas.
Os estudos apontam que os benefícios dessa prática, ainda que positivos, são menores para alunos com dificuldades no aprendizado. Os melhores alunos também não são os que mais se beneficiam de classes homogêneas, mas sim os alunos com um desempenho intermediário.
A diversidade da turma traria por si só ganhos para os alunos em termos de convivência e respeito às diferenças. No entanto, para que turmas heterogêneas tivessem os mesmos ganhos comprovados de aprendizado que têm as turmas homogêneas, seria necessário que os professores estivessem mais bem preparados para lidar com as técnicas pedagógicas apropriadas para as turmas heterogêneas.
POSSIBILIDADES DE AÇÃO
Alocar os alunos em classes homogêneas quanto ao desempenho acadêmico pode ser uma política de baixo custo que eleva a proficiência dos alunos. Segundo alguns autores, os impactos podem ser ainda maiores se a medida for combinada a políticas complementares. Existem evidências de que os efeitos da homogeneidade são maiores em turmas em que o professor consegue dar mais atenção a cada um dos alunos. No entanto, se a montagem de turmas homogêneas for seguida de políticas que destinem mais recursos para os melhores estudantes, é grande o risco de aumentar a desigualdade de oportunidades.
Portanto, antes de optar por uma ou outra política, é necessário que os diretores levem em conta diversos fatores, como a forma de alocação dos professores nas turmas. Não existem resultados conclusivos na literatura a respeito da estratégia mais adequada. De qualquer modo, se os melhores professores forem destinados às turmas dos bons alunos, é grande o risco de ocorrer um aumento na desigualdade de aprendizado.
Texto elaborado com base em estudo de Cristine Campos de Xavier Pinto
(1) O impacto em desvio-padrão corresponde a 0,16.