Há evidência sistemática de que o desempenho acadêmico do professor é relevante para o aprendizado do aluno. Mas esse desempenho acadêmico deve ser entendido em sentido amplo: ele inclui tanto as notas obtidas nos cursos de formação como a pontuação em testes realizados durante o exercício da profissão, seja em
processos de admissão, de seleção ou de certificação. Professores que foram bons estudantes universitários, e que continuam a se sair bem nos testes ao longo da carreira, tendem a lecionar melhor — ou seja, têm alunos que aprendem mais.
Assim, um bom boletim universitário e uma boa avaliação em testes profissionais constituem um critério válido para políticas de seleção e promoção de docentes. Contudo, para a definição de políticas de formação de professores, as razões que levam um profissional que tenha sido bom aluno a ensinar bem devem ser analisadas mais a fundo.
IMPACTO
Os estudos revelam que o aprendizado de alunos de professores com melhor desempenho acadêmico (isto é, aqueles que obtiveram notas entre as 20% mais altas) é maior que o aprendizado daqueles cujos mestres mostraram pior desempenho acadêmico (com notas entre as 20% mais baixas).
A princípio, o mecanismo que explicaria mais diretamente tal associação é que um professor de melhor desempenho acadêmico sabe mais e esse conhecimento influi no aprendizado dos estudantes. Alunos de professores que sabem mais o que ensinam, aprendem mais. Entretanto, professores de melhor desempenho acadêmico em determinadas áreas do conhecimento podem ser aqueles que possuem motivações e talentos específicos para essas áreas.
Para tentar identificar o que realmente existe por trás da relação entre o desempenho de mestres e alunos, alguns estudos analisam o desempenho acadêmico do docente separadamente, por disciplina. Tais pesquisas revelam que aqueles que obtiveram as melhores notas em cursos ou exames de Matemática (quer sejam eles de conteúdos matemáticos, quer versem sobre o ensino da Matemática) são os melhores quando lecionam essa disciplina aos alunos. O mesmo é verdadeiro para professores de Linguagem (Português, Inglês ou outro idioma).
Esse resultado é considerado uma indicação de que o conhecimento é realmente o mecanismo que está por trás da associação do desempenho acadêmico dos professores com o aprendizado dos alunos. Ainda assim, podemos supor que os professores de Matemática tenham talento e motivação especiais para Matemática e não para Linguagem, e vice-versa. Talentos e motivações específicos para determinadas áreas podem ser, portanto, os fatores determinantes tanto do bom desempenho do professor como do aprendizado dos alunos.
POSSIBILIDADES DE AÇÃO
Independentemente da interpretação adotada, os estudos indicam que as Secretarias de Educação devem recrutar para o quadro do magistério os candidatos com melhor desempenho acadêmico — tomando como base a qualidade da universidade cursada, as notas obtidas e as
certificações que testam o conhecimento dos aspirantes ao cargo. Sugerem ainda que se busquem escalas de remuneração que premiem esses docentes com base no resultado alcançado em sala de aula, estimulando sua permanência na profissão.
Para a definição de políticas educacionais voltadas para a formação profissional, no entanto, as pesquisas não são conclusivas. Tanto o conhecimento do professor sobre conteúdos específicos como as aptidões e os talentos individuais para determinadas áreas parecem ser importantes.
Texto elaborado com base em estudo de Ricardo Paes de Barros