O que importa para o aprendizado escolar


Formação acadêmica do professor

Resumo - Notas Técnicas - Bibliografia

A qualidade do professor é um fator importante para o bom desempenho do aluno, disso não há dúvida. O surpreendente é que a quase totalidade dos estudos realizados indica que essa qualidade está pouco relacionada à titulação — critério amplamente utilizado para definir a remuneração e outras formas de reconhecimento.

O que faz diferença é a qualidade da universidade que o professor cursou. Diversas pesquisas revelam que o aprendizado dos alunos de uma mesma escola diferencia-se de acordo com a qualidade da instituição na qual o professor concluiu sua formação superior. O aprendizado do aluno pode ser maior porque a universidade selecionou os candidatos mais talentosos e motivados para a profissão ou porque o curso foi capaz de conferir aos futuros professores as habilidades necessárias para o bom desempenho em sala de aula.

IMPACTO

Estudos demonstram que alunos de uma mesma escola e vindos de ambientes familiares semelhantes não apresentam grandes diferenças no aprendizado quando estudam com professor que tenha, ou não, formação superior, tampouco que tenha, ou não, completado uma pós-graduação.

A constatação precisa, no entanto, ser analisada com cuidado, pois admite múltiplas interpretações. Uma delas é que a educação superior recebida pelo professor pode ter sido de baixa qualidade ou mesmo inadequada às necessidades de sala de aula. Muitas vezes, o problema se encontra no próprio currículo do curso superior, que não está alinhado com o que é adotado nas escolas. Em qualquer desses casos, o curso superior ou de pós-graduação torna-se pouco efetivo na promoção do aprendizado dos alunos.

Outra justificativa possível para a fraca relação entre desempenho dos alunos e formação acadêmica dos professores é que os estudos que comparam o desempenho dos docentes com diferentes graus de escolaridade não levam em conta a interferência que características como talento e motivação podem ter em sua atuação. Eles partem do princípio de que essas características são necessariamente similares nos grupos analisados, o que não é verdade. Tanto o talento como a motivação dos professores podem declinar com o nível de escolaridade, anulando o impacto que uma pós-graduação, por exemplo, teria sobre o aprendizado dos alunos.

Se, entre os aspirantes a professor, aqueles com menor escolaridade tiverem o magistério como primeira opção e os pós-graduados abraçarem essa carreira apenas como terceira ou quarta alternativa, espera-se que a motivação e a qualidade do professor não melhorem sistematicamente com o aumento da escolaridade.

Uma terceira interpretação vem do impacto que maiores prestígio, remuneração e estabilidade — conferidos pela titulação — pode ter sobre a motivação e o desempenho do professor. Argumenta-se que o tratamento diferenciado recebido pelos mais escolarizados e a segurança que o conhecimento adquirido lhes proporciona teriam impacto negativo sobre seu esforço em preparar e ministrar as aulas. De fato, qualquer privilégio definido segundo o nível educacional, em particular a diferença de remuneração — embora estimule a aquisição de habilidades potencialmente capazes de aumentar o aprendizado dos alunos —, pode também servir de desestímulo ao esforço dos professores.

De todos os níveis educacionais, é na comparação entre professores com licenciatura e com formação superior que se observa a maior diferenciação em termos de desempenho, já que a evidência não ratifica a essencialidade da licenciatura. Muitas vezes, no entanto, a política educacional insiste em que os professores tenham licenciatura. Na verdade, existem diversos estudos demonstrando como profissionais com educação superior e sem licenciatura podem, quando adequadamente recrutados, tornar-se excelentes professores.

Diversos estudos revelam que a qualidade das instituições é importante não apenas porque o professor adquire mais conhecimentos, mas também por causa da maior adequação dos conteúdos ensinados ao exercício da profissão.

A evidência científica disponível indica que esses conteúdos têm grande influência no aprendizado dos alunos. Quanto mais diretamente conectado com o que o professor utiliza em sala de aula, maior tende a ser o impacto da educação superior.

De forma geral, o desempenho do professor é influenciado por três tipos de conhecimento: do conteúdo a ser ensinado, do processo de aprendizado dos alunos e das práticas de gerenciamento da sala de aula.

Estudos indicam que todos têm grande impacto sobre o aprendizado do aluno. Segundo as pesquisas, capacitações em serviço sobre gerenciamento da sala de aula são particularmente importantes para professores nos primeiros anos de carreira.

POSSIBILIDADES DE AÇÃO

Quando possível, é importante que as Secretarias de Educação deem preferência à seleção de professores provenientes de instituições de melhor qualidade. Cabe às Secretarias de Educação desenvolver programas para atrair esses professores e às escolas procurar mantê-los.

O ideal é que os docentes mais preparados sejam menos protegidos e mais desafiados. O tamanho desses desafios precisará, porém, ser calibrado com os incentivos, para que as eventuais dificuldades não funcionem como desestímulo à aquisição de uma boa escolaridade ou levem ao abandono da profissão pelos mais talentosos.

Em princípio, diferentemente do que costuma ocorrer, esses professores poderiam ser alocados prioritariamente nas comunidades mais carentes, com maiores desafios de aprendizado. Sua avaliação também poderia ser complementada por alguma forma de monitoramento do desempenho do aluno.

Também é fundamental que a Secretaria de Educação saiba selecionar e que as escolas saibam capacitar os professores em serviço, levando em conta a sua experiência e o tipo de conhecimento que detêm. Aos menos experientes, por exemplo, é importante orientação e apoio em serviço sobre o gerenciamento e funcionamento da sala de aula. Aos mais experientes, é importante a oportunidade de obter mais conhecimento a respeito do conteúdo específico a ser ensinado e de práticas pedagógicas diversificadas.

Texto elaborado com base em estudo de Ricardo Paes de Barros





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Impacto esperado

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do aprendizado típico em 1 ano Critérios

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