Quanto maior o número de alunos por classe, menor a atenção dada pelo professor a cada um, o que pode comprometer o aprendizado. O impacto da redução do tamanho das turmas, no entanto, está diretamente associado ao contexto do sistema educacional. A implantação de novas turmas depende tanto de espaço físico adequado como da disponibilidade de selecionar e contratar professores ao menos tão qualificados quanto os que compõem o quadro do magistério. Portanto, antes de investir em uma política desse tipo, convém avaliar seu custo-benefício comparado com o de outras políticas que também possam
intensificar a relação aluno-professor.
IMPACTO
O efeito da redução das turmas depende de diversos fatores, entre eles a qualidade do professor. Professores com mais escolaridade e experiência parecem lidar melhor com turmas grandes. Seu sucesso depende também da infraestrutura da rede de ensino. Reduzir o número de alunos por turma requer espaço físico e um número de candidatos a professor que tenham a mesma qualificação dos que estão em exercício. Em algumas redes, o aumento do número de salas de aula pode exigir a contratação de novos professores. Caso eles sejam inexperientes, o impacto sobre a proficiência dos alunos poderá ser negativo, prejudicando as crianças em vez de beneficiá-las.
As evidências apontam que uma redução média de 30% no tamanho da turma eleva consideravelmente a proficiência dos alunos. O efeito equivale a aumentar em 44% o que tipicamente um aluno aprende ao longo de um ano. (1)
Os impactos da redução da quantidade de alunos por turma também não são sempre inversamente proporcionais, variando de acordo com o tamanho original do grupo. Reduzir uma turma grande gera, portanto, mais impacto sobre o aprendizado do que fazer o mesmo em uma turma pequena.
Além disso, os efeitos variam de acordo com o ano escolar. Estudos apontam que para o 6o ano do Ensino Fundamental, por exemplo, os resultados são significativos em classes que tenham mais de 30 alunos. Para o Ensino Infantil, os efeitos dessa redução já começam a aparecer a partir de 20 alunos.
Diminuir a turma nos anos iniciais também parece ter outra vantagem: o aluno tem um desempenho escolar melhor não só no ano em que esteve em uma turma menor, mas também nos três anos seguintes, segundo as pesquisas. No entanto, a diferença em relação aos colegas que não estudaram em turmas reduzidas vai ficando menor.
As pesquisas indicam ainda que a redução beneficia aparentemente mais os alunos com maior dificuldade de aprendizado e vindos de famílias mais vulneráveis. Alguns estudos sugerem, inclusive, que essa política deveria focar escolas que atendem alunos mais carentes, pois os impactos nelas tendem a ser maiores.
Uma das grandes dificuldades em estimar o efeito da diminuição das classes está na alocação dos alunos nessa ou naquela turma em função de fatores que fogem ao controle nas pesquisas, como pressão dos pais e preferência dos diretores. Se, por exemplo, os pais de mais alto nível educacional insistirem para ter seus filhos em turmas menores, essas turmas concentrarão os alunos com melhores condições para a aprendizagem. Nesse caso, uma pesquisa poderia superestimar o efeito da política de redução. De outro modo, se as escolas tiverem concentrado os alunos com maior dificuldade, e que consequentemente precisam de mais atenção, em salas menores, uma estimativa possivelmente subestimaria o efeito dessa política.
A composição das turmas pode também levar à superestimação ou subestimação do efeito da política de redução, dependendo de como os alunos se beneficiam da interação com seus pares. Em grupos menores, os alunos não só recebem mais atenção dos professores como também interagem de forma mais intensa entre si. Não seria possível, assim, separar o impacto do tamanho reduzido da turma do efeito da interação com os colegas.
POSSIBILIDADES DE AÇÃO
Como o efeito de uma política de redução do tamanho da turma está diretamente relacionado à infraestrutura e ao quadro do magistério do sistema educacional, as Secretarias de Educação precisam garantir que os professores alocados nas novas turmas tenham qualificação minimamente igual à dos professores em exercício, além de espaço físico adequado nas escolas.
Apesar de essa política ser mais cara nos anos iniciais do Ensino Fundamental do que nos anos finais, as vantagens, de acordo com os estudos, são duradouras, proporcionando melhor desempenho escolar por mais três anos. Uma opção, portanto, seria priorizar a redução do tamanho das turmas nos anos iniciais. Se ainda assim não for possível arcar com os custos dessa política em toda a rede de ensino, pode ser necessário focar ainda mais os investimentos, priorizando escolas que atendem crianças de famílias mais vulneráveis, em que o efeito, segundo as evidências, é ainda maior.
É importante lembrar que a magnitude do impacto depende do tamanho original da turma e do ano escolar em questão. Para o 6º ano do Ensino Fundamental os efeitos de uma política de redução de 30% no tamanho da classe já são significativos para turmas que tenham mais de 30 alunos. Já na Educação Infantil essa redução produz efeitos em turmas que tenham mais de 20 alunos. Ou seja: nas séries menos avançadas, quando as crianças são mais novas, as turmas precisam ser realmente menores que nos anos escolares mais avançados para que os alunos tenham melhores oportunidades de aprendizado.
Dado que os investimentos necessários para implantar essa política não são baixos, também é necessário verificar qual a sua relação custo-benefício para a rede e compará-la com a de outras políticas voltadas para intensificar a relação professor-aluno.
Texto elaborado com base em estudo de Cristine Campos de Xavier Pinto
(1) O impacto em desvio-padrão corresponde a 0,20.